sexta-feira, 24 de julho de 2009

Trupe Gogó da Ema e Suas Histórias

A Trupe Gogó da Ema surgiu em 2000, a partir das dificuldades que os profissionais da Coordenação de Biblioteca do SESC Alagoas, encontravam em selecionar pessoas capacitadas, para trabalharem as programações literárias idealizadas para incentivar o prazer da leitura.
Naquela época, realizávamos a tão esperada Feira de Livros Infantis do SESC, ação de grande credibilidade e reconhecimento do público, principalmente dos estudantes das redes pública e particular de Maceió, onde as escolas já incluíam o projeto nos seus calendários anuais.
As ações que propúnhamos para serem desenvolvidas nas Feiras tinham como objetivo principal o incentivo ao hábito da leitura, porém a cada realização as dificuldades de seleção de pessoal para desenvolver ações perduravam.
O Departamento Nacional do SESC, por meio da área de literatura, produziu naquela época um Catálogo com dados de oficineiros, escritores, e demais profissionais que trabalhavam com literatura, visando subsidiar os Regionais quando da contratação de serviços, aonde chegamos a sugerir e incluir alguns alagoanos que ao longo dos anos, haviam trabalhado conosco. Mas especificamente, contadores de histórias, realmente não conseguíamos localizar em Alagoas.
Quando das solicitações das Demandas, ofertadas no Pré-Programa do Departamento Nacional, observamos que podíamos pleitear a vinda de um profissional, para capacitar a equipe que realiza as Feiras de Livros, no nosso caso o pessoal da Biblioteca, nas mais diversas necessidades pertinentes ao projeto. Aí foi a grande sacada para suprir a ausência e demanda pela ação.
Solicitamos então o Treinamento para Contadores de Histórias. Propúnhamos naquele momento, nos despir do papel de gestores da ação, para tornar-nos protagonistas onde desempenharíamos um ação que não teríamos obrigatoriedade de desenvolver, mas o compromisso e dedicação falaram mais alto.
Vale ressaltar que toda orientação e sugestão foram compartilhadas com a técnica em literatura do DN, Maria José, que nunca mediu esforços para apoiar e fazer com que cada projeto literário acontecesse.
Lançada a idéia, apoiada pelo Nacional, o então Gerente de Atividades Sociais, Maurício Pestana, propôs a inclusão de diversos Coordenadores da Área Fim, que poderiam aproveitar a proposta para desenvolver melhor suas ações. Assim ocorreu!
Lembro que foram pessoas das mais diversas profissões, todos empolgados e ávidos para desfrutar do momento e aplicar os conteúdos apreendidos, nas suas práticas cotidianas, fossem estas de recreação, educação em saúde, sala de aula, dentre outras.
Numa sala de aula do SENAC Alagoas, com a presença de técnicos de literatura do DN e grande equipe de profissionais do SESC Alagoas, realizamos a nossa primeira capacitação em Contação de Histórias. A instrutora escolhida a dedo, Benita Prieto, integrante do Grupo Morandubetá – Contadores de Histórias- RJ. Pessoa especial, iluminada, exigente, que nos cativou e envolveu.
Foram dias de alegria, prazer e grande motivação. A cada momento éramos lançados em desafios nunca vivenciados anteriormente. Livros, textos, histórias, técnicas, risos, trocas, num imenso interagir e conhecer. Acredito que antes dessa capacitação não havíamos tido oportunidade de sermos tão verdadeiros e transparentes. Pudemos conhecer cada sensação, medo e desejos dos colegas presentes.
As provas e exercícios exigiam respostas imediatas. Não havia espaço para embromação! Todos que estavam ali tinham que se doar e viver a ação. A magia aconteceu! O comprometimento e doação de todos foram tamanhos que saímos dali com um pacto para desdobrar a proposta além Feira de Livros e ações pertinentes a cada área, como previsto em nossos focos iniciais. Amarramos uma grande agenda de apresentações, onde nos servidores do SESC, nos comprometemos em levar a frente à idéia de sermos contadores de histórias e incentivadores de leitura. Pactuamos também que reuniríamos sistematicamente para discussão e estudo coletivo acerca da arte de contar histórias.
Adquirimos os títulos de livros sugeridos e outros que buscávamos incessantemente para aperfeiçoamento e discussão. As reuniões eram cheias de leitura, dúvidas, avaliações... Começamos a contatar histórias nos diversos Centros de Atividades e projetos do SESC Alagoas (Feira de Livros, Exposições da Galeria SESC, Balneário de Guaxuma, Reuniões de Convivência da III Idade, Salas de Aula da Educação Infantil, Biblioteca Central, Sala de Leitura SESC Centro.). “Escolhemos o nome do grupo: Trupe Gogó da Ema de Contadores de Histórias do SESC Alagoas”.
A cada apresentação realizada, a Trupe se reunia e avaliava a desempenho, anotava os dados e os envia para o Nacional, o qual repassava para apreciação da Benita Prieto, que se comprometeu em prestar-nos assessoria.
Foram tantas dicas interessantes, experiências motivadoras, e em alguns momentos frustrantes. O repertório era vasto e inusitado. Havia proposta de apresentações temáticas, por faixa etária, outras regionais. Testamos de tudo! Fomos até confundidos com humoristas, tamanha nossa vontade de adaptar as histórias a grupos específicos. Após contarmos um causo engraçado, alguém nos perguntou se poderíamos contar outra piada!
A cada momento refletíamos, adequávamos, e refinávamos o grupo. Alguns nunca se apresentaram para o público, outros aplicavam os conteúdos no dia a dia. Mas a Trupe nunca parou! Novos integrantes chegaram, pois éramos também multiplicadores! Outras capacitações vieram somar, pois nossa vontade de continuar aliada a demanda crescente fazia com que sentíssemos cada vez motivados a continuar, embora a dificuldade em conciliar as apresentações, ensaios, estudos, com as demais atribuições especificas de cada servidor envolvido na proposta, nos inquietasse.
Ao contrário da desistência, insistíamos na idéia, pois fomos tocados pelo prazer em contar e encantar os ouvintes com a arte de contar histórias. Percebemos ali, tantas possibilidades de crescimento, aprendizado e troca. A atividade era fascinante!
Saímos dos muros do SESC. Recebíamos tantos convites, para escolas, eventos, creches, hospitais, salas de leitura, bienais... Cumpríamos a agenda com grande prazer. Certa vez fomos contar histórias para adolescentes em uma escola rural, para a qual nos descolamos em carro institucional utilitário, ofertado pelo solicitante da apresentação. Quando da volta, fomos conduzidos em ônibus especial, onde havia também outros passageiros já acomodados nos assentos e vestidos com uniformes azuis. Qual nossa surpresa, quando o transporte adentrou o espaço prisional, vizinho a Universidade Federal de Alagoas. Aí ficamos sabendo que aqueles passageiros eram reeducandos do sistema prisional, que estavam sendo reintegrados a sociedade, por meio da prática profissional na área da escola rural, que havíamos visitado. Ainda bem que só soubemos no momento da descida dos mesmos!
Forma tantas passagens engraçadas e especiais, que até os momentos atuais este primeiro grupo de contadores, relembra os fatos vivenciados.
Participamos de outras capacitações em contação de histórias, análise de texto, observamos outras técnicas, realizamos encontro de contadores, apresentamos nossas experiências e no paralelo, continuávamos contando histórias!
Os anos passaram, pessoas se foram, projetos surgiram, mudanças estruturais ocorreram inclusive de responsabilidades de gestão da área literária, porém a Trupe Gogó da Ema de Contadores de Histórias do SESC Alagoas, permanece no imaginário, memória, e na prática profissional de muitos servidores e ouvintes que ainda hoje fazem parte e freqüentam a Instituição.
Os documentos existentes retratam e comprovam a sua história inédita e bem sucedida.
Avalio que houve apenas uma pausa nas apresentações, como um processo normal de seleção natural, onde ocorre amadurecimento e reflexão. Os compromissos com o fazer, aliado ao bom gosto e qualidade dos conteúdos das propostas institucionais, fazem parte da política e querer das pessoas que fazem parte do SESC Alagoas, onde a responsabilidade social é soberana.
Estas são as memórias e saudades de uma Trupe que sempre fiz e farei parte, após a pausa em que me encontro.
Cléa Costa
Diretora de Programas Sociais